|Resenha| O Menino Que Desenhava Monstros - Um Traço/Um Pesadelo

Título: O menino que desenhava monstros

Título original: The boy who drew monsters

Autor: Keith Donohue

Ano de publicação: 2016

Editora: Darkside Books

Páginas: 256

Lançamento desta edição: 2016

Jack Peter é um garoto de 10 anos com síndrome de Asperger que quase se afogou no mar três anos antes. Desde então, ele só sai de casa para ir ao médico. Jack está convencido de que há de monstros embaixo de sua cama e à espreita em cada canto. Certo dia, acaba agredindo a mãe sem querer, ao achar que ela era um dos monstros que habitavam seus sonhos. Ela, por sua vez, sente cada vez mais medo do filho e tenta buscar ajuda, mas o marido acha que é só uma fase e que isso tudo vai passar.
          Não demora muito até que o pai de Jack também comece a ver coisas estranhas. Uma aparição que surge onde quer que ele olhe. Sua esposa passa a ouvir sons que vêm do oceano e parecem forçar a entrada de sua casa. Enquanto as pessoas ao redor de Jack são assombradas pelo que acham que estão vendo, os monstros que Jack desenha em seu caderno começam a se tornar reais e podem estar relacionados a grandes tragédias que ocorreram na região. Padres são chamados, histórias são contadas, janelas batem. E os monstros parecem se aproximar cada vez mais.

Keith Donohue nos brinda com uma história que tem o terror revelado em sutilezas. Antes de fazer uma resenha, eu sempre dou uma olhada em um ou dois sites/blogs que eu gosto, além do Skoob para ver como o livro está sendo recebido por leitores com gostos parecidos com o meu e geralmente o que eu leio nestes locais, traduz em outras palavras o meu sentimento.

Mais uma bela edição da Darkside Books- Capa dura e ilustrações no interior

Para minha surpresa não foi isso que aconteceu com O menino que desenhava monstros. Terminei o livro faz algumas semanas e fiquei em um frenesi, pois achei a história arrasadora, um belo terror, contado de uma maneira interessante. Mas ao verificar como o livro foi recebido, tive a triste surpresa de ver críticas realmente negativas, sendo muitas vezes tachado de fraco ou clichê.

Fãs do gênero sentiram-se de alguma forma traídos, devido à proposta da Darkside Books de deixar as pessoas acordadas com medo das próprias sombras.

Bom, Keith Donohue nos trás uma narrativa lenta, com uma boa construção dos personagens (que por sinal, não são muitos). O que eu definiria como núcleo principal resume-se ao protagonista Jack Peter (JP), um menino de cerca de 10 anos que possui a síndrome de Aspenger (um distúrbio social pertencente ao espectro do autismo) e que após quase perder a vida afogado, desenvolve agorafobia (medo de locais abertos), confinando-o a claustrofóbica casa. JP possui apenas um amigo, o Nicholas (Nick) que tem sua história particular permeando a trama. Além disso, os pais de JP possuem uma personalidade bem escrita e são responsáveis por diversos dos capítulos, geralmente mostrando descrença com relação ao filho e tensões familiares devido as dificuldades vividas.

JP gosta muito de desenhar monstros - Um por página em branco. Isso é um jeito dele se expressar, contornar as dificuldades, é o que dizem, e tudo bem. E seria melhor se esses monstros não estivessem apenas esperando uma chance de o pegar.

Jack começa a agir mais estranho que o de costume, reclamando sempre de monstros cercando a casa e pesadelos que o acordam durante a madrugada com aquele grito entalado na garganta que acabam fragilizando ainda mais o garoto e o deixando agressivo.

Nada pior do que tentar manter do lado de fora alguma coisa que quer entrar.

Ao fim, não é um livro que fará você dormir de luz acessa e nem te deixar com medo de tudo que há embaixo de sua cama e sim, uma história que te embala, contada no seu próprio tempo, nos mostrando que muitas vezes não sabemos direito como lidar com coisas que nos fogem ao controle e nós como adultos, nos culpamos por tentarmos resolver tais problemas com o que convém do nosso cotidiano.

Ao fim do livro, você verá que o livro conversou com você de maneira única, e quem sabe nesse fim você talvez tenha medo de saber as verdades que crianças podem contar, ou quem sabe o real significado de um desenho a esmo.

Keith mostra ser um excelente contador de histórias e sabe como chegar aonde ele realmente quer - Para dentro de seus medos mais obscuros. Para isso ele cresce a história de uma maneira muito interessante e única, tanto que antes do desfecho do livro eu possuía cerca de cinco possíveis finais na minha mente. A história converge para um ponto, mas de uma maneira instável, onde tudo pode acontecer a qualquer momento.

Não pense que os monstros e os desenhos não te atormentarão. Caso eles não o façam, algo mais o fará.

Não tenha tanta certeza sobre as coisas que não pode ver. A mente conjura o mistério, mas é o espírito que fornece a chave.

O final é mórbido, gótico e surpreendente. Talvez não seja a obra-prima do terror que você tanto espera, mas talvez seja uma boa história contada de uma maneira sutil e sensível. Quem sabe a chuva de críticas negativas venha do fato deste livro não apresentar aquela dinâmica e formato tão comercial de tramas rasas e consumidas artificialmente em poucos dias. Se arrisque e descubra a verdade por trás dos desenhos.

Nota: