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|Resenha| A Menina Submersa: Memórias - Entre Licantropos, Sereias E Fantasmas

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Título: A menina submersa: memórias
Título original: The drowning girl, a memoir
Autor: Caitlín R. Kiernan
Ano de publicação: 2012
Editora:  Darkside books
Páginas: 320
Lançamento desta edição: 2015

 
“A Menina Submersa: Memórias é um verdadeiro conto de fadas, uma história de fantasmas habitada por sereias e licantropos. Mas antes de tudo uma grande história de amor construída como um quebra-cabeça pós-moderno, uma viagem através do labirinto de uma crescente doença mental. Um romance repleto de camadas, mitos e mistério, beleza e horror, em um fluxo de arquétipos que desafiam a primazia do “real” sobre o “verdadeiro” e resultam em uma das mais poderosas fantasias dark dos últimos anos. Considerado uma “obra-prima do terror” da nova geração, o romance é repleto de elementos de realismo mágico e foi indicado a mais de cinco prêmios de literatura fantástica, e vencedor do importante Bram Stoker Awards 2013. O trabalho cuidadoso de Caitlín R. Kiernan é nos guiar pela mente de sua personagem India Morgan Phelps, ou Imp, uma menina que tem nos livros os grandes companheiros na luta contra seu histórico genético esquizofrênico e paranoico. Filha e neta de mulheres que buscaram o suicídio como única alternativa, Imp começa a escrever um livro de memórias para tentar reconstruir seus pensamentos e lutar contra o que seria “a maldição da família Phelps”, além de buscar suas lembranças sobre a inusitada Eva Canning, sua relação com a namorada e consigo mesma, que evoca em muitos momentos a atmosfera de filmes como Azul é a Cor mais Quente (Palma de Ouro em Cannes, 2013) e Almas Gêmeas (1994), de Peter Jackson. Não se assuste: é um livro dentro de um livro, e a incoerência uma isca para uma viagem mais profunda".

Este livro é o que é, o que significa que ele pode não ser o livro que você espera que seja.

Começo a minha resenha com essa excelente citação que resume o próprio livro em si. Sim, quem lê o resumo oficial fica com mil perguntas e cria suas próprias expectativas, mas o segredo do livro está em parte no título: “memórias”. Essa foi a melhor maneira que encontrei, nesta minha tentativa frustrada, de rotular/definir a obra.

Indo do início ... na trama acompanhamos a Imp (Indian Morgan Phelps), que está escrevendo algo que parece um livro de memórias, tipo um diário. O problema está no fato de que ela é louca. Sim, esquizofrênica e com algo que ela categoriza como uma loucura hereditária que levou a avó dela e posteriormente a própria mãe a se suicidar.

O começo do livro é excelente, fiquei muito animado com a não-linearidade da história, viajando entre passado e presente com muita frequência além de ser contada, a princípio, em primeira pessoa mas com a possibilidade de mudar isso conforme a própria vontade.

'Vou escrever uma história de fantasmas agora', ela datilografou. ‘Uma história de fantasmas com uma sereia e um lobo’, datilografou mais uma vez.
Eu também datilografei.

Imp se mostra nas primeiras 50 páginas, uma excelente narradora (apesar de ela própria te alertar diversas vezes que ela não é confiável, pois as suas memórias podem não corresponder à realidade dos fatos devido à sua loucura e aos remédios que ela toma) e toda a confusão da história ganha forma e acaba te deixando bem curioso sobre aonde à autora quer te levar com a história.

Sinceramente achei que terminaria esse livro rapidamente, mas acabou que não e essa história se tornou a minha história de fantasmas.


assombrações são memes, em particular, transmissões de ideias perniciosas, doenças contagiosas sociais que não precisam de hospedeiro viral nem bacteriano e são transmitidas de milhares de modos diferentes.


Comecei a leitura no começo de 2015, e como eu disse anteriormente, a primeira parte da história me cativou. Prossegui a leitura por cerca de mais umas 20 páginas e quando notei ... PUFF ... tinha desistido e começado a ler outra coisa. Sim, a história que já era uma leitura densa acaba se arrastando de uma maneira mortal. Você acaba se irritando com as muitas referências a obras de arte e artistas fictícios que estão extremamente relacionados com a trama e com o jeito dela de não abordar e finalizar os temas que ela inicia.
Não vejo muita resolução no mundo. Nascemos, vivemos e morremos, e no fim disso há somente uma confusão feia de negócios inacabados.


Depois disso, fiquei alguns meses lendo outras obras, mas sempre vivendo à sombra desse livro inacabado e na dúvida se aquele livro que me interessou tanto no início não poderia ter um final magistral. Fui ler novamente, desde o início, pois é muito denso e não me lembrava de muito da história. Nessa segunda tentativa, gostei novamente da primeira parte e novamente empaquei no mesmo ponto. Realmente não conseguia, a história se arrastava demais e parecia não te levar a lugar nenhum.

Em conclusão, neste ano li a primeira parte (pela terceira vez) e persisti, por mais monótono que estivesse. E para minha felicidade eu terminei.
Minha impressão pós-leitura é que a trama é boa e a leitura, mesma arrastada, vale a pena. O real e o fictício se misturam nesta narração estranha.

O livro se resume em cinco personagens muito bem desenvolvidos, Saltonstall e Perrault são artistas de duas obras: A menina submersa e Fecunda Ratis respectivamente. Eles são tão bem escritos, que parecem pintores reais, as obras permeiam o livro de uma maneira impressionante (São um dos pontos altos da trama).

 Phillip George Saltonstall: The Drowning Girl (por Michael Zulli)

 Imp e sua namorada Abalyn também são personagens extremamente bem desenvolvidos, ambas tem um caráter bem definido. A última personagem é a Eva Canning, que se encontrava nua em uma estrada perto de um rio. Ao avistar a estranha, Imp dá carona, levando-a para casa. Aí se dá o real início da história de lobisomens, sereias e fantasmas. A misteriosa Eva é um personagem que durante o livro te desperta muitas dúvidas.

 Albert Perrault: Fecunda ratis (por Matthew Jaffee festménye)

A edição da Darkside books está muito bonita (tanto a edição de luxo quanto a normal). Vi reclamações em alguns sites dizendo que haviam erros ortográficos que incomodavam a leitura, mas eu particularmente discordo. Pois é um livro de memórias e existem algumas frases taxadas, como se a Imp tivesse mudado de ideia na escrita e há também alguns jogos com palavras, onde ela repete algumas vezes determinadas coisas, mas pelo que notei tudo tinha um fundo na história. Como a fissura que a personagem tem com o número 7 (ela repete a palavra sete exatamente sete vezes).

Uma ênfase especial para o capítulo 7, pois fui procurar um pouco sobre outras opiniões sobre a leitura e no site goodreads.com encontrei muitas pessoas falando de tal capítulo e das páginas mais confusas já lidas. Sim, por alguns motivos, Imp para de tomar os remédios, finaliza sua história de sereias e começa sua história de lobisomens e o que você encontra lá é algo irreconhecível/confuso, mas com várias citações lindas. Em alguns momentos desse capítulo lembrei de H. P. Lovecraft. Achei magistral (mas confesso que se esse estilo de escrita permanecesse até o fim do livro eu teria desistido). Então a dica é: passe do capítulo 7, as coisas voltam a lenta narrativa, mas a história começa a se amarrar aos poucos e parte para um final simples e que me agradou. É um livro bem pontual, gostei de várias partes e não gostei de outras.

Lembre-se que este é um livro premiado e muitas vezes você entende o porquê. Independentemente de tudo que eu falei, posso dizer que ele possui uma trama que te deixa curioso com o desenrolar da história.

 Nota:

9 comentários:

  1. Que amor você ter tentado tantas vezes hahaha eu sou do tipo que não consegue deixar leituras inacabadas, se deixo, os livros ficam me assombrando (O Triste Fim de Policarpo Quaresma tá na minha cabeça desde os 15 anos e A Metafísica dos Costumes vai me rodear por muito tempo ainda haha), por isso sei como é a sensação de pensar que "fracassou" e no que poderia estar perdendo ao não ler tal obra. Estava bem curiosa por esse livro, confesso que sua resenha me desanimou um pouco mas ainda vou tentar quando ele chegar na minha mão haha

    literalizza.blogspot.com

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    1. Desculpe, a ideia não era desanimar não haha
      O livro tem muitas ideias boas, mas você verá que a escrita acaba se arrastando demais.
      Mas ainda sim, existem picos da história que te prendem de um jeito único.

      Abraços

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  2. Oláá, nossa queria muito ler esse livro, mas agr q li sua resenha fiquei na dúvida! O.o
    Mas admiro vc por ter tentado tantas vezes prosseguir com a leitura.
    Abraços.

    Jovem Literário

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    1. hahahah sim, foi complicado. Esse livro ficou na minha cabeça até eu conseguir terminá-lo.

      Abraços

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  3. Esse livro... Vi muita gente dizendo que é confuso, e isso me despertou muito o interesse. O problema maior aqui, para mim, é ser arrastado. Isso que me preocupa... Não sei se teria a força de vontade de tentar tantas vezes. Nenhuma resenha me fez ter certeza de que deveria ler ou não... Mas gostei muito da sua sinceridade e dica: passar do capítulo sete. Se a Amazon me ajudar, eu compro e leio haha.


    ourbravenewblog.weebly.com

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    1. hahahah já vi esse livro em promoção algumas vezes. A edição de luxo é bonita, mas esse rosto na edição simples parece que combina mais.
      Então, no capítulo sete você precisa de paciência, mas depois tudo volta aos eixos. haha

      Abraços

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    2. O capítulo sete por um acaso é aquele onde ela deixa de tomar os remédios e fica mais louca do que nunca? Porque se for, realmente, terminei com um leve desgraçamento mental tentando entender o que a autora estava falando ali hahahah. Foi o mais doido... Mas acabei adorando o livro, um dos melhores do ano passado.



      ourbravenewblog.weebly.com
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  4. Oi! Tenho as duas edições desse livro, mas ainda não descobri se o conteúdo é o mesmo. De qualquer jeito, tô meio assim em iniciar a leitura porque todos falam que é uma leitura densa e arrastada e definitivamente não posso me prender a esse tipo de livro no momento. Que bom que depois de tantas tentativas você finalmente conseguiu concluir hahah e quanto aos erros, acredito que sejam propositais mesmo. A Darkside é super cuidadosa com suas obras, acho que não deixariam passar algo assim.

    Beijos,
    Kemmy|Duas Leitoras

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    1. Simm, uma delas é a edição de luxo (provavelmente) e o conteúdo é igual. Sim a Darkside tem um capricho com cada livro. Não é a toa que a editora está vendendo horrores.
      Trabalho de primeira qualidade.

      Abraços.

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